
24/12/2022
O Natal Perfeito!
Domingo à tarde, os programas que passam na televisão portuguesa fizeram-me recordar a imagem de uma quadra natalícia rodeada de muitas pessoas, a família, num ambiente caloroso, intimista e confortante. Esta é, muitas vezes, passada repetidamente como a única imagem possível do Natal.
Não sei se assim será para a maioria das pessoas, mas tenho a certeza e a experiência de que, para muitas, não será exactamente assim.
Tipicamente, no mês de Dezembro, ou até antes, observamos nas consultas de psicologia um aumento da ansiedade e, em alguns casos, até mesmo de angústia pela aproximação destes dois dias, que para muitos demoram mais de um “mês emocional” a ultrapassar.
Este sentimento de obrigatoriedade de que, independentemente das relações, dos tipos de contactos e interacções ao longo do ano, este é um momento para estar em família leva a que muitas pessoas vivam este período com uma enorme vontade de que ele passe, em que cada segundo em família, para algumas, é um tormento, mas que, apesar disso, não são capazes de não comparecer a esta festa que, nestes contextos, de intimista, confortante e calorosa nada tem.
E aqueles que não têm família, ninguém para comemorar, ou porque estão longe, ou por qualquer outro motivo, e optam por passar estes dias sozinhos ou com amigos, terão um Natal mais triste do que aqueles que se impõem estar num ambiente familiar tóxico e angustiante?
Esta imagem única do Natal, esta necessidade de promover uma ideia mágica, mesmo por aqueles que não o vivem de tal forma, contribui para gerar angústia e sentimentos de exclusão em tantos outros.
O Natal perfeito é aquele em que, sozinhos ou com aqueles que escolhemos o ano inteiro, não só para esta noite mas para diversas noites e dias do nosso ano, criamos um ambiente de conforto e segurança. É aquele em que nos respeitamos a nós, as nossas necessidades, e não colocamos de lado o nosso bem-estar em prol de um sacrifício tantas vezes desvalorizado por aqueles pelo qual o fazemos.
Este Natal esteja com quem quer, esteja com quem se sente confortável, em harmonia e seguro, mas não deixe de estar consigo, de se respeitar e de cuidar do seu bem-estar.
(Crónica no Novo Semanário)